Alma-de-mestre

Alma-de-mestre
Alma-de-mestre, Armando Caldas

Alma-de-mestre

23 Julho de 2019

Este ano, a cabeça de cartaz do festival é a alma-de-mestre, uma pequena ave marinha cujo voo faz lembrar o de um morcego. As almas-de-mestre passam a vida no mar, vindo a terra apenas para se reproduzir. No outono, podem ser vistas ao largo de Sagres, baloiçando nas ondas enquanto esperam pelo vento certo ou, quando ele sopra, voando rumo aos mares do sul. Segundo consta, os marinheiros de outrora, ao verem estes pequenos vultos negros a esvoaçar atrás das suas embarcações, pensariam que eram as almas dos “mestres” de navios naufragados, e daí terá surgido o nome da espécie.

Pouco maior que um pardal e com o seu voo de aspeto tremido, a alma-de-mestre tem um ar etéreo, mas na verdade é uma força da natureza. Estas aves chegam a percorrer mais de 200km em dois ou três dias em busca de alimento, e fazem viagens épicas do noroeste da Europa até ao sul de África. Durante esta migração dos seus locais de nidificação na Islândia, Ilhas Faroé e Reino Unido rumo ao Atlântico Sul para passar o inverno, a maioria delas passa provavelmente por águas portuguesas.

Para ver uma alma-de-mestre em Portugal, o melhor é fazer-se ao mar. Aí, poderá observar o sapateado destas aves sobre a água, enquanto se alimentam com as asas erguidas em “V”, mostrando a barra branca no lado inferior. Esta é a imagem de marca que permite identificar a alma-de-mestre. Enquanto desliza sobre a água, vai colhendo pequenos peixes, lulas, alforrecas e crustáceos junto à superfície.

A única altura em que esta ave vem a terra é em maio e junho, quando se refugia em ilhas e ilhéus no norte da Europa. Aí, usa o bico para escavar o solo, removendo-o com as patas para criar uma toca onde fazer o ninho. Ou então, aproveita uma toca de coelho ou de uma ave maior, como o papagaio-do-mar. Aí, faz uma pequena cavidade lateral, onde os vizinhos maiores não conseguem entrar. Por vezes, esta estratégia corre mal, e as almas-de-mestre são esmagadas pelos seus vizinhos. Mas se tudo correr bem, os progenitores revezam-se a incubar o ovo e passado um ou dois meses são recompensados com uma pequena bola de penugem cinzenta, que alimentam durante mais uns meses. Já crescida, a cria faz-se ao mar. Com um pouco de sorte, viverá uma década, percorrendo milhares de quilómetros numa vida que mostra a sua própria alma de mestre.

Saiba mais o estado da espécie em Portugal AQUI (http://www.atlasavesmarinhas.pt/alma-de-mestre/)