O Concelho de Vila do Bispo encontra-se em grande parte integrado no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, revelando-se como um raro e genuíno santuário natural. A baixa pressão demográfica, a diversidade de habitats que preserva e o seu clima favorável constituem fatores que propiciam a ocorrência de um enorme número de espécies de flora, exclusivas da Região e de Portugal. Estimam-se cerca de 1000 espécies e subespécies de plantas aqui presentes, sendo que mais de 40 são endémicas de Portugal continental. Destas, calcula-se que 12 são exclusivas do Parque Natural e que 4 se encontram confinadas à área de Sagres-Cabo de São Vicente, destacando-se, a título de exemplo, o nosso tojo-de-Sagres (Ulex erinaceus).
É o fim, ou o início, do mundo conhecido. O vento norte e noroeste dominam durante o ano, moldando uma paisagem que se julga pobre, seca e árida.
Caminhemos nela...e entramos numa outra realidade. Descobrimos cores aqui e ali, nas pequenas flores que tentam atrair quem as polinize, e uma diversidade de verdes que desconhecemos até caminhar nesta paisagem. E a cor verde está presente o ano todo, haja água ou haja seca! Temos a época das flores e a época das bagas, cada uma proporcionando que cada planta “viaje” até outras paragens. Assim se reproduzem e se propagam, garantindo a continuidade da espécie.
Botânicos e arquitetos paisagistas vêm dos quatro cantos do mundo à procura de um dos mais bonitos exemplos de jardim mediterrânico. É que, apesar de rodeados pelo atlântico, temos aqui um dos poucos lugares do mundo cuja vegetação e clima são mediterrânicos.
Face à escassez de água, aos solos pouco profundos e à salsugem – o sal transportado pelo vento que vem do mar - muitas espécies tiveram de se adaptar e modificar. Para sobreviver nestas condições difíceis, espécies que noutros locais seriam árvores aqui tomam a forma de arbustos. Por estas razões o Cabo de S. Vicente é, em Portugal, o lugar com maior número de endemismos (espécies que não existem em mais nenhum lugar no mundo) e uma biodiversidade única. Aqui encontramos exemplares de espécies que são exclusivas da Península Ibérica, de Portugal, do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e, até, apenas de Sagres.
São muitas as plantas aqui existentes que beneficiam das aves para dispersão das suas sementes. É sobretudo no outono, estação em que algumas espécies produzem as suas atraentes bagas, que este ciclo acontece, com diversas aves a incluir as bagas na sua dieta. Espécies como o Cartaxo-comum Saxicola torquatus, a carriça Troglodytes troglodytes ou o rabirruivo Phoenicurus ochruros complementam a sua alimentação com bagas silvestres e sementes.
Uma das espécies de planta que dá frutos no início do outono é a Aroeira Pistaccia lentiscus, cujas bagas, inicialmente vermelhas, se tornam negras. É uma espécie bastante aromática e com muitas utilizações humanas, nomeadamente na produção da pastilha elástica.
À primeira vista, esta região pode parecer seca e pobre em termos de vegetação, mas a sua biodiversidade é imensa, albergando inúmeras espécies de plantas, aves e insetos que dependem umas das outras.
Adaptado de conteúdos produzidos por Walkin´Sagres