Na terra de São Vicente e do Infante D. Henrique, gentes da Igreja, da nobreza, reis e militares monumentalizaram para sempre as paisagens de Vila do Bispo, legando-nos elegantes edifícios religiosos, como a ermida medieval de Guadalupe, na Raposeira, e a igreja barroca de Vila do Bispo, mas também fortalezas como a de Sagres e até um dos mais antigos e potentes faróis do Mundo, localizado no Cabo de São Vicente.
Vila de Sagres
Podemos recuar até ao século IV a.C. para resgatar as primeiras referências historiográficas relativas à região de Sagres. Foram diversos os autores clássicos, Gregos e Romanos, que descreveram, segundo a cosmovisão mediterrânica da época, o “fim do Mundo” conhecido, o extremo sudoeste da Europa. No século I a.C., Estrabão, historiador, geógrafo e filósofo grego, ‘batiza’ esta nossa finisterra como “Hieron akrotérion”, designação grega traduzida para o Latim como “Promontorium Sacrum”, ou seja, o Cabo Sagrado... Sagres! Gregos, Romanos, Muçulmanos, tantos povos, tantas gentes, mas foi graças à motivação pessoal do Infante D. Henrique (1394-1460) que, a partir de 1443, surge uma efetiva povoação no interior das muralhas da fortaleza que mandou edificar. D. Henrique aqui se deteve por diversas ocasiões, dando interesse aos assuntos de pioneiras navegações que organizou, quer para as ilhas atlânticas, quer para a costa de África. Aqui faleceu no dia 13 de novembro de 1460. Nos finais do século XIX surgiram as primeiras casas na zona que, hoje, corresponde ao centro histórico de Sagres.
Cabo de São Vicente (Sagres)
Este imponente promontório marca o extremo sudoeste do Continente Europeu, a finisterra mediterrânica. Na Antiguidade, foi tido como santuário natural e morada de divindades gregas. Já na Idade Média, entre o século VIII e o século XII, a devoção ao lugar teve continuidade com o acolhimento das relíquias do mártir Vicente, um dos primeiros santos da Igreja Católica Romana. Segundo a tradição religiosa, algures neste local terá existido um templo, entretanto desaparecido, dedicado ao culto de São Vicente, a Kanisat al-Gurab ou Ermida do Corvo, na época um dos santuários mais concorridos nas rotas de peregrinação moçárabe da Península Ibérica. Mais tarde, em 1173, o primeiro Rei de Portugal, D. Afonso Henriques, patrocina uma nova trasladação das relíquias do mártir, desta feita para Lisboa. Desde então, este promontório passou a ser conhecido como Cabo de São Vicente. No século XVI, em 1516, foi aqui fundado um convento de religiosos franciscanos, que funcionou até 1834. Em 1846, as estruturas monacais foram adaptadas para farol. O Farol de Dom Fernando é um dos mais importantes da costa portuguesa e europeia. O seu feixe luminoso pode ser avistado a 32 milhas náuticas, assumindo-se como um dos 10 mais potentes faróis em todo o Mundo.
Fortaleza de Sagres (Sagres)
Foi graças ao interesse pessoal do Infante D. Henrique (1394-1460) que, a partir de 1443, nasceu esta fortaleza. O grande objetivo terá sido dar apoio à navegação e às embarcações que, devido às condições climatéricas ou à necessidade de fazer aguada, tinham de fundear na enseada da Mareta. D. Henrique aqui se deteve por diversas vezes, dando interesse aos assuntos das navegações que mandou levar a cabo, quer para as ilhas atlânticas, quer para a costa de África. Aqui faleceu no dia 13 de novembro de 1460. Nos séculos XVI, XVII e XVIII a fortaleza conheceu diversas campanhas de obras, sobretudo na sequência de danos causados pelo ataque do corsário inglês Francis Drake, em 1587, e pelo Grande Terramoto de 1 de Novembro de 1755. Em 1793 ganhou a sua configuração atual. Ao longo dos séculos, no interior das muralhas, viveram soldados e as suas famílias. Além da Igreja de Nossa Senhora da Graça, no interior da praça existe uma enigmática figura circular, com 32 raios, desenhada no solo com pedra tosca, conhecida como a “rosa-dos-ventos”, mas que poderá representar um grande gnómon, um relógio-de-sol. Em 1960, aqui ocorreram importantes celebrações em homenagem ao Infante D. Henrique, por altura dos 500 anos sobre a sua morte.
Forte de Santo António do Beliche (Sagres)
Construída no século XVI, sob a invocação de Santo António, esta fortificação teve como objetivo dar proteção aos pescadores da armação de atum que existia na enseada adjacente. Foi destruída em 1587 pelas forças de Francis Drake, famoso corsário inglês. A entrada, sobre a porta defensiva, ostenta um escudo com as Armas Reais e uma inscrição de 1632, data da reconstrução de que foi alvo. Esteve ativa até ao fim da Guerra Civil, em 1834. Daí em diante entrou em decadência. Na década de 60 do século XX, foi transformada numa unidade hoteleira de apoio à Pousada de Sagres. Atualmente, sob a gestão da Câmara Municipal de Vila do Bispo, o Forte de Santo António do Beliche é sede do Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza, evento que se realiza anualmente no primeiro fim-de-semana de outubro. No seu interior, destaca-se a Capela de Santa Catarina, já existente no século XVI.
Igreja de Nossa Senhora da Conceição (Vila do Bispo)
Dedicada a Nossa Senhora da Conceição, este templo foi construído nos finais do século XV, inícios do XVI. Durante o primeiro quartel do século XVIII recebeu importantes obras. Foi por essa altura que incorporou a característica decoração barroca, com imponentes retábulos de talha dourada, grandiosos painéis de azulejos azuis e brancos, fabricados em Lisboa, e o seu teto de caixotões de madeira, decorados com simbologia cristã e com o Brasão de Armas Nacional, ao centro. Apresenta uma só nave e uma capela-mor coberta por abóbada, consagrada a Nossa Senhora da Conceição, tendo sido outrora dedicada a Santa Maria do Cabo, além de duas tábuas dos finais do século XVI, representando os Apóstolos S. Pedro e S. Paulo. Lateralmente destaca-se a Capela de Nossa Senhora do Carmo e um fronteiro altar, elementos adornados por talha dourada de qualidade soberba. Numa sala anexa à capela-mor, existe uma importante coleção de arte sacra, na qual se destaca o relicário de São Vicente, do século XVI. Na sacristia existe um arcaz do século XVII.