As árvores, sebes e arbustos de Sagres acolhem milhares de visitantes todos os outonos. Alguns estão apenas de passagem, a caminho da abundância do sul, enquanto para outros a península será refúgio durante todo o inverno.
De finais de agosto a inícios de outubro, os vales costeiros, campos agrícolas e zonas abrigadas em torno de Sagres são ponto de paragem para pequenas aves insetívoras. Felosas, petinhas e chascos estão a caminho de África, onde o fim da época das chuvas traz uma explosão de insetos.
As espécies que visitam a zona de Sagres em maior número nesta altura do ano são o papa-moscas Ficedula hypoleuca (uma das aves mais comuns em Portugal nesta altura do ano), a felosa-musical Phylloscopus trochilus, o chasco-cinzento Oenanthe oenanthe e a alvéola-amarela Motacilla flava.
É frequente ver-se o taralhão-cinzento Muscicapa striata, a ir e vir do seu poleiro num ramo, enquanto se alimenta. Em zonas arborizadas, sobressai muitas vezes a coloração que dá o nome ao rabirruivo-de-testa-branca Phoenicurus phoenicurus, enquanto em zonas mais abertas é frequente avistar-se o cartaxo-nortenho Saxicola rubetra, pousado estrategicamente num ponto elevado à procura da próxima refeição. Apesar de não nos visitar em grandes números, a petinha-das-árvores Anthus triviallis é também observada com regularidade.
Apesar de serem mais escassas, a felosa-de-papo-branco Phylloscopus bonelii, o pisco-de-peito-azul Luscinia svecica e a sombria Emberiza hortulana também por aqui andam. E já foram também avistadas raridades como a petinha-de-garganta-ruiva Anthus cervinus ou o rabirruivo-mourisco Phoenicurus moussieri, que, conforme o nome indica, vive normalmente em África.
A meados de outubro, chega uma segunda vaga de visitantes alados, desta feita para ficar. Vêm do norte da Europa, onde o alimento escasseia devido aos rigores do inverno. No nosso clima mais ameno, encontram refúgio e abundância nos meses mais frios. Nalguns casos, a chegada destes visitantes de inverno nota-se não pelo aparecimento de novas espécies, mas pelo número de aves que subitamente se vêm. É o caso dos tordos e dos trigueirões: às aves que vivem em Portugal todo o ano, juntam-se as que vêm do norte.
O abanar de cauda de uma alvéola-branca Motacilla alba é um movimento comum em Sagres nesta altura do ano. Nos jardins e espaços verdes, avistam-se também o pisco-de-peito-ruivo Erithacus rubecula, o tentilhão Fringilla coelebs e a toutinegra-de-barrete-preto Sylvia atricapilla, enquanto os prados são invadidos por centenas de petinhas-dos-prados Anthus pratensis. A banda sonora desta estação é pautada pelo canto do tordo-pinto Turdus philomelos e do pintassilgo Carduellis carduellis, e pelo trinado do trigueirão Emberiza calandra.
A petinha-de-richard Anthus richardi, a ferreirinha-alpina Prunella collaris e o melro-de-colar Turdus torquatus e, apesar de mais escassos, também são vistos e ouvidos todos os anos.
Dos milhares de pássaros que chegam ao Algarve todos os anos, grande parte não volta a sair. São capturados para serem vendidos como aves de gaiola, ou comidos como petisco. Se suspeitar ter encontrado indícios desta atividade ilegal, contacte o Serviço de Proteção da Natureza e Ambiente da GNR (SEPNA-GNR).
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